sábado, 3 de março de 2018

Quem é Jesus, Por que Ele Nasceu na Terra e Por que Ele Retornará?- Parte 2

       QUEM É JESUS?

      Continuando... nossa reflexão anterior sobre quem é Jesus, o que Ele veio fazer aqui na Terra e por que Ele retornará, vamos buscar nos próprios registros históricos dos Evangelhos outras informações importantes daquela época.
     No “Novo Testamento”  está o registro feito por aqueles que conviveram diretamente com o Cristo, e por aqueles que conheceram o Evangelho posteriormente, através dos discípulos de Jesus.
     João, que viveu diretamente com Jesus, fez um registro importante para entendermos o que se passou ali na Galileia:

João 20
30 – Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro.
31 – Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.

João 21
25 – Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos.

      Acima, como relata João, muitas outras coisas ocorreram realizadas por Jesus e que não foram registradas. Se todas as coisas tivessem sido escritas talvez teríamos uma visão mais ampla sobre Jesus e sua obra.

A ERA DA "CIÊNCIA DO ESPÍRITO" EM PROGRESSO...
Francisco Cândido Xavier

     Passados mais de dois mil anos após esses registros, quase um século depois do surgimento da Ciência do Espírito, em 1940, na cidade de Pedro Leopoldo (MG) o Espírito Humberto de Campos, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, trouxe novas revelações para que possamos entender melhor sobre a vida de Jesus. Nesse livro, “Boa Nova”, ele relata inúmeras passagens da vida de Jesus, sendo que algumas delas não estão registradas no “Novo Testamento”. Também, em 1964, no Livro “Contos Desta e Doutra Vida”, ele nos traz outras passagens ocorridas com Jesus e seus discípulos naquele tempo. Com esses relatos, é preenchido, um pouco, ao que João se referiu sobre os "muitos outros sinais feitos por Jesus" e que não foram registrados em livros naquela época.

      Na introdução  “Na Escola do Evangelho”, do livro "Boa Nova", Humberto de Campos relata:
     
Espírito Humberto de Campos
(...) Nas esferas mais próximas da Terra, os nossos labores por afeiçoar sentimentos, a exemplo do Cristo são também minuciosos e intensos. Escolas numerosas se multiplicam, para os Espíritos desencarnados. E eu, que sou agora um discípulo humilde desses educandários de Jesus, reconheci que os planos espirituais têm também o seu folclore. Os feitos heroicos e abençoados, muitas vezes anônimos no mundo, praticados por seres desconhecidos, encerram aqui profundas lições, em que encontramos forças novas. Todas as expressões evangélicas têm, entre nós, a sua história viva. Nenhuma delas é símbolo superficial. Inumeráveis observações sobre o Mestre e seus continuadores palpitam nos corações estudiosos e sinceros.
     Dos milhares de episódios desse folclore do Céu, consegui reunir trinta e trazer ao conhecimento do amigo generoso que me concede a sua atenção. Concordo em que é pouco; mas isso deve valer como tentativa útil, pois estou certo de que não me faltou o auxílio indispensável. (...)
    (...) Agora, para consolidar a estranheza dos que me leem, com o sabor de críticas, tão ao gosto do nosso tempo, justificando a substância real das narrativas deste livro, citarei o apóstolo Marcos, quando diz (4:34): “E sem parábola nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seus discípulos”;  e o apóstolo João, quando afirma (21:25): “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez e que, se cada uma de per si fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem.”
     E é só. Como se vê, não faço referências aos clássicos da literatura antiga ou contemporânea. Cito Marcos e João. É que existem Espíritos esclarecidos e Espíritos evangelizados, e eu, agora, peço a Deus que abençoe a minha esperança de pertencer ao número destes últimos.(...)

     No livro, Humberto de Campos traz 30 episódios que ocorreram naquele tempo com Jesus, e ali vamos ver a dificuldade de Jesus ser compreendido até mesmo entre seus discípulos sobre a mensagem do “ Reino dos Céus” que ele trazia para ser vivenciada pela humanidade.
     Com o advento da Ciência do Espírito iniciada por Allan Kardec, através de seu esforço em pesquisar o fenômeno mediúnico e as manifestações dos espíritos, o evangelho de Jesus foi revivido e muitas outras coisas mais foram e estão sendo reveladas. Pois agora podemos perceber que o “Espírito da Verdade” não se trata de uma única entidade, e sim de uma egrégora espiritual que realiza o projeto de esclarecimento espiritual para trazer maturidade à toda humanidade.
V. Lau
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Bibliografia:
“Evangelho Segundo o Espiritismo” Allan Kardec; tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE 2005.

“Boa Nova” – pelo Espírito Humberto de Campos; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier.  – Brasília: FEB, 2013.

“Contos desta e doutra vida” pelo Espírito Irmão X; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. -Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2008.
Paris,1864

Allan Kardec

6 – Venho ensinar e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao nível de suas provas; que chorem, porque a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras; mas que esperem, porque os anjos consoladores virão enxugar suas lágrimas.
     Obreiros, traçai o vosso sulco; recomeçai no dia seguinte a rude jornada da véspera; o  labor de vossas mãos fornece o pão terrestre ao vosso corpo, mas vossas almas não estão esquecidas; e eu,  divino jardineiro, as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos; quando  a  hora do repouso tiver soado, quando a trama dos vossos dias escapar de vossas mãos, e quando vossos olhos se fecharem à luz, sentireis surgir e germinar em vós a minha preciosa semente. Nada está perdido no Reino de nosso Pai, e vossos suores, vossas misérias, formam o tesouro que deve vos tornar ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas e onde o mais desnudo de vós será, talvez, o mais resplandecente.
     Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são meus bem-amados.  Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos ensina o objetivo sublime da provação humana. Como o vento varre a poeira, que o sopro dos Espíritos dissipe os vossos ciúmes contra os ricos do mundo que, frequentemente, são muito miseráveis, porque suas provas são mais perigosas do que as vossas. Eu estou convosco, e meu apóstolo vos ensina. Bebei na fonte viva do amor e preparai-vos, cativos da vida, para vos lançar um dia, livres e alegres, no seio d´Aquele que vos criou fracos para vos tornar perfectíveis, e que quer que vós mesmos trabalheis vossa maleável argila, a fim de serdes os artífices da vossa imortalidade. – O Espírito de Verdade (Paris, 1861)
Livro: “Evangelho Segundo o Espiritismo” 

Pedro Leopoldo (MG), 9 de novembro de 1940.

Espírito Humberto de Campos

     A última ceia
 

     Reunidos os discípulos em companhia de Jesus, no primeiro dia das festas da Páscoa, como de outras vezes, o Mestre partiu o pão com a costumeira ternura. Seu olhar, contudo, embora não traísse a serenidade de todos os momentos, apresentava misterioso fulgor, como se sua alma, naquele instante, vibrasse ainda mais com os altos planos do Invisível.
     Os companheiros comentavam com simplicidade e alegria os sentimentos do povo, enquanto o Mestre meditava silencioso.
     Em dado instante, tendo-se feito longa pausa entre os amigos palradores, o Messias acentuou com firmeza impressionante:
     - Amados, é chegada a hora em que se cumprirá a profecia da Escritura. Humilhado e ferido, terei de ensinar em Jerusalém a necessidade do sacrifício próprio, para que não triunfe apenas uma espécie de vitória, tão passageira quanto as edificações do egoísmo ou do orgulho humanos. Os homens têm aplaudido, em todos os tempos, as tribunas douradas, as marchas retumbantes dos exércitos que se glorificaram com despojos sangrentos, os grandes ambiciosos que dominaram à força o espírito inquieto das multidões; entretanto, eu vim de meu Pai para ensinar como triunfam os que tombam no mundo, cumprindo um sagrado dever de amor, como mensageiros de um mundo melhor, onde reinam o bem e a verdade. Minha vitória é a dos que sabem ser derrotados entre os homens, para triunfarem com Deus, na divina construção de suas obras, imolando-se, com alegria, para a glória de uma vida maior.
     Ante a resolução expressa naquelas palavras firmes, os companheiros se entreolharam, ansiosos.
     O Messias continuou:
     - Não vos perturbeis com as minhas afirmativas, porque, em verdade, um de vós outros me há de trair!... As mãos, que eu acariciei, voltam-se agora contra mim. Todavia, minha alma está pronta para execução dos desígnios de meu Pai.
     A pequena assembleia fez-se lívida. Com exceção de Judas, que entabulara negociações particulares com os doutores do Templo, faltando apenas o ato do beijo, a fim de consumar-se a sua defecção, ninguém poderia contar com as palavras amargas do Messias. Penosa sensação de mal-estar se estabelecera entre todos. O filho de Iscariotes fazia o possível por dissimular as suas angustiosas impressões, quando os companheiros se dirigiam ao Cristo com perguntas angustiadas:
     - Quem será o traidor? – disse Filipe, com estranho brilho nos olhos.
     - Serei eu? – indagou André, ingenuamente.
     - Mas, afinal – objetou Tiago, filho de Alfeu, em voz alta -, onde está Deus que não conjura semelhante perigo?
     Jesus, que se mantivera em silêncio ante as primeiras interrogações, ergueu o olhar para o filho de Cleofas e advertiu:
     -Tiago, faze calar a voz de tua pouca confiança na sabedoria que nos rege os destinos. Uma das maiores virtudes do discípulo do Evangelho é a de estar sempre pronto ao chamado da Providência divina. Não importa onde e como seja o testemunho de nossa fé. O essencial é revelarmos a nossa união com Deus, em todas as circunstâncias. É indispensável não esquecer a nossa condição de servos de Deus, para bem lhe atendermos ao chamado, nas horas de tranquilidade ou de sofrimento.
     A esse tempo, havendo-se calado novamente o Messias, João interveio, perguntando:
     - Senhor, compreendo a vossa exortação e rogo ao pai a necessária fortaleza de ânimo; mas por que motivo será justamente um dos vossos discípulos o traidor de vossa causa? Já nos ensinastes que, para se eliminarem do mundo os escândalos, outros escândalos se tornam necessários; porém, ainda não pude atinar com a razão de um possível traidor, em nosso próprio colégio de edificação e de amizade.
     Jesus pousou no interlocutor os olhos serenos e acentuou:
     - Em verdade, cumpre-me afirmar que não me será possível dizer-vos tudo agora; entretanto, mais tarde enviarei o Consolador, que vos esclarecerá em meu nome, como agora vos falo em nome de meu Pai.
      E, detendo-se um pouco a refletir, continuou para o discípulo em particular:
     - Ouve, João: os desígnios de Deus, se são insondáveis, também são invariavelmente justos e sábios. O escândalo desabrochará em nosso próprio círculo bem-amado, mas servirá de lição a todos aqueles que vierem depois de nossos passos, no divino serviço do Evangelho. Eles compreenderão que para atingirem a porta estreita da renúncia redentora hão de encontrar, muitas vezes, o abandono, a ingratidão e o desentendimento dos seres mais queridos. Isso revelará a necessidade de cada qual firmar-se no seu caminho para Deus, por mais espinhoso e sombrio que ele seja.
     O Apóstolo impressionara-se vivamente com as derradeiras palavras do Mestre e passou a meditar sobre seus ensinos.

     As sensações de estranheza perduravam em toda a assembleia. Jesus, então, levantou-se e, oferecendo a cada companheiro um pedaço de pão, exclamou:
     - Tomai e comei! Este é o meu corpo.
     Em seguida, servindo a todos de uma pequena bilha de vinho, acrescentou:
    - Bebei! Porque este é o meu sangue, dentro do Novo Testamento, a confirmar as verdades de Deus.
    Os discípulos lhe acolheram a suave recomendação, naturalmente surpreendidos, e Simão Pedro, sem dissimular a sua incompreensão do símbolo, interrogou:
    - Mestre, que vem a ser isso?
    - Amados – disse Jesus, com emoção -, está muito próximo o nosso último instante de trabalho em conjunto e quero reiterar-vos as minhas recomendações de amor, feitas desde o primeiro dia do apostolado. Este pão significa o do banquete do Evangelho; este vinho é o sinal do espírito renovador dos meus ensinamentos. Constituirão o símbolo de nossa comunhão perene, no sagrado idealismo do amor, com que operaremos no mundo até o último dia. Todos os que partilharem conosco, através do tempo, desse pão eterno e desse vinho sagrado da alma, terão o espírito fecundado pela luz gloriosa do Reino de Deus, que representa o objetivo santo dos nossos destinos.
     Ponderando a intensidade do esforço a ser empregado e aludindo às multidões espirituais que se conservam sob a sua amorosa direção, fora dos círculos da carne, nas esferas mais próximas da Terra, o Cristo acrescentou:
    - Imenso é o trabalho da redenção, mesmo porque tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; mas o Reino nos espera com sua eternidade luminosa!...
     Altamente tocados pelas exortações solenes, porém, maravilhados ainda mais com as promessas daquele reinado venturoso e sem-fim, que ainda não podiam compreender claramente, a maioria dos discípulos começou a discutir as aspirações e conquistas do futuro.
     Enquanto Jesus se entretinha com João, em observações afetuosas, os filhos de Alfeu examinavam com Tiago as possíveis realizações dos tempos vindouros, antecipando opiniões sobre qual dos companheiros poderia ser o maior de todos, quando chegasse o Reino com as suas inauditas grandiosidades. Filipe afirmava a Simão Pedro que, depois do triunfo, todos deveriam entrar em Nazaré para revelar aos doutores e aos ricos da cidade a sua superioridade espiritual. Levi dirigia-se a Tomé e lhe fazia sentir que, verificada a vitória, se lhes constituía uma obrigação a marcha para o Templo ilustre, em que exigiriam seus poderes supremos. Tadeu esclarecia que o seu intento era dominar os mais fortes e impenitentes do mundo, para que aceitassem, de qualquer modo, a lição de Jesus.
     O Mestre interrompera a sua palestra íntima com João, e os observava. As discussões iam acirradas. As palavras “maior de todos” soavam insistentemente aos seus ouvidos. Parecia que os componentes do sagrado colégio estavam na véspera da divisão de uma conquista material e, como os triunfadores do mundo, cada qual desejava a maior parte da presa. Com exceção de Judas, que se fechava num silêncio sombrio, quase todos discutiam com veemência. Sentindo-lhes a incompreensão, o Mestre pareceu contemplá-los com entristecida piedade.


    Nesse instante, os apóstolos observaram que Ele se erguia. Com espanto de todos, despiu a túnica singela e cingiu-se com uma toalha em torno dos rins, à moda dos escravos mais íntimos, a serviço dos seus senhores. E, como se fossem dispensáveis as palavras naquela hora decisiva de exemplificação, tomou de um vaso de água perfumada e, ajoelhando-se, começou a lavar os pés dos discípulos. Ante o protesto geral em face daquele ato de suprema humildade, Jesus repetiu o seu imorredouro ensinamento:
     - Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou. Se eu, Senhor e Mestre, vos lavo os pés, deveis igualmente lavar os pés uns dos outros no caminho da vida, porque no Reino do bem e da Verdade, o maior será sempre aquele que se fez sinceramente o menor de todos.
Livro: “Boa Nova” 

Uberaba (MG), 20 de janeiro de 1964

Espírito Irmão X

     Aprendizes e adversários

    
Casa de Pedro em Cafarnaum
Jonathan, Jessé e Eliakim, funcionários do Templo de Jerusalém, passando por Cafarnaum, procuraram Jesus no singelo domicílio de Simão Pedro.
     Recebidos pelo Senhor, entregaram-se, de imediato, à conversação.
     - Mestre - disse o primeiro -, soubemos que a tua palavra traz ao mundo as Boas Novas do Reino de Deus e, entusiasmados com as tuas concepções, hipotecamos ao teu ministério o nosso aplauso irrestrito. Aspiramos, Senhor, à posição de discípulos teus... Não obstante as obrigações que nos prendem ao Sagrado Tabernáculo de Israel, anelamos servir-te, aceitando-te as ideias e lições, com as quais seremos colunas de tua causa na cidade eleita do povo escolhido... Contudo, antes de solenizar nossos votos, desejamos ouvir-te quanto à conduta que nos compete à frente dos inimigos.

     - Messias, somos hostilizados por terríveis desafetos, no Santuário – exclamou o segundo -,e, extasiados com os teus ensinamentos, estimaríamos acolher-te a orientação.
    
     - Filho de Deus – pediu o terceiro -, ensina-nos como agir...

     Jesus meditou alguns instantes, e respondeu:

     - Primeiramente, é justo considerar nossos adversários como instrutores. O inimigo vê junto de nós a sombra que o amigo não deseja ver e pode ajudar-nos a fazer mais luz no caminho que nos é próprio. Cabe-nos, desse modo, tolerar-lhe as admoestações, com nobreza e serenidade, tal qual o ferro, que após sofrer, paciente, o calor da forja, ainda suporta os golpes do malho com dignidade humilde, a fim de se adaptar à utilidade e à beleza.

     Os visitantes entreolharam-se, perplexos, e Jonathan retomou a palavra, perguntando:

     - Senhor, e se somos injuriados?

     - Adotemos o perdão e o silêncio – disse Jesus. – Muita gente que insulta é vítima de perturbações e enfermidade.
     - E se formos perseguidos? -  indagou Jessé.

    - Utilizemos a oração em favor daqueles que nos afligem, para que não venhamos a cair no escuro nível da ignorância a que se acolhem.

    - Mestre, e se nos baterem, esmurrarem? – interrogou Eliakim. – Que fazer se a violência nos avilta e confunde?

    - Ainda assim -  esclareceu o brando interpelado -, a paz íntima deve ser nosso asilo e o amor fraterno a nossa atitude, porquanto, quem procura seviciar o próximo e dilacerá-lo está louco e merece compaixão.

     - Senhor -  insistiu Jonathan -, que resposta oferecer, então, à maledicência, à calúnia e à perversidade?

     O Cristo sorriu e precisou:

     - O maledicente guarda consigo o infortúnio de descer à condição do verme que se alimenta com o lixo do mundo, o caluniador traz no coração largas doses de fel e veneno que lhe flagelam a vida, e o perverso tem a infelicidade de cair nas armadilhas que tece para os outros. O perdão é a única resposta que merecem, porque são bastante desditosos por si mesmos.

     - E que reação assumir perante os que perseguem? – inquiriu Jessé, preocupado.

    - Quem persegue os semelhantes tem o espírito em densas trevas e mais se assemelha ao cego desesperado que investe contra os fantasmas da própria imaginação, arrojando-se ao fosso do sofrimento. Por esse motivo, o socorro espiritual é o melhor remédio para os que nos atormentam...

     - E que punição reservar aos que nos ferem o corpo, assaltando-nos o brio? – perguntou Eliakim, espantado. – Refiro-me àqueles que nos vergastam a face e fazem sangrar o peito...


     - Quem golpeia pela espada, pela espada será golpeado também, até que reine o Amor Puro na Terraexplicou o Mestre, sem pestanejar. – Quem se rende às sugestões do crime é um doente perigoso que devemos corrigir com reclusão e com o tratamento indispensável. O sangue não apaga o sangue e o mal não retira o mal...


     E, espraiando o olhar doce e lúcido pelos circunstantes, continuou:

     - É imperioso saibamos amar e educar os semelhantes com a força de nossas convicções e conhecimentos, a fim de que o Reino de Deus se estenda no mundo... As Boas Novas de Salvação esperam que o santo ampare o pecador, que o são ajude ao enfermo, que a vítima auxilie o verdugo...Para isso, é imprescindível que o perdão incondicional, com o olvido de todas as ofensas, assegure a paz e a renovação de tudo...

     Nesse ínterim, uma criança doente chorou em alta voz num aposento contíguo.

     O Mestre pediu alguns instantes de espera e saiu para socorrê-la, mas, ao regressar, debalde buscou a presença dos aprendizes fervorosos e entusiastas.

      Na sala modesta de Pedro não havia ninguém.

Livro: “Contos desta e doutra vida” 


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