quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Origem da Exclusão da Reencarnação

     
Concílio de Nicéia (Imagem: Wikipédia)
    Como está registrada na história, em vários períodos, a estrutura religiosa cristã formou-se com a aliança entre o poder imperial e o poder religioso, com o objetivo de domínio e imposição de poder, gerando com isso benefícios de interesses pessoais.
    Os Concílios, realizados pelos poderes imperiais e religiosos do passado, procuraram combater a diversidade de crenças e estabelecer uma única interpretação verdadeira da doutrina cristã.
     No panorama histórico da formação da fé cristã podemos perceber a dificuldade de interpretação dos registros antigos, devido à dúvida de suas autorias e distorções quanto às traduções. Por este motivo é que surgiram diversas seitas religiosas; com interpretações, dogmas e liturgias próprias.
   O ser humano tem uma forte tendência a se prender na forma exterior; em detrimento da essência. Isto porque, compreender o abstrato  é muito mais difícil quando não se usa o raciocínio livre de superstição e de crença imposta por representantes dos poderes temporais.
     Jesus iniciou a sua doutrina endereçada a mudança do pensamento e do sentimento humano. Trata-se de uma mudança do comportamento humano e a formação de uma ética que harmoniza a sociedade planetária. E, para a mudança deste comportamento, torna-se necessário o conhecimento das leis divinas com que Deus rege o universo. As revelações dessas leis sempre vieram de forma gradativa, e foram utilizados seres humanos dotados de capacidade para revelá-las (mediunidade). Eles recepcionaram essas revelações e as interpretaram conforme suas crenças culturais. A reencarnação é uma dessas revelações das Leis Divinas, e ela explica de forma lógica e racional o processo evolutivo das almas e a origem dos sofrimentos humanos.
      Se ela não é aceita em alguns segmentos cristãos é porque não está registrada nos seus livros canônicos. Os textos, abaixo, explicam porque foram retirados os registros que tratavam do tema reencarnação.
     Desde o estudo inicial do fenômeno mediúnico, a partir de 1857, com o Livro dos Espíritos, as revelações, de forma gradativa, vêm complementando as revelações do passado. As seitas religiosas que se prendem mais à forma do passado não conseguem aceitar que, as revelações atuais, vêm dar continuidade e profundidade de compreensão às revelações antigas.
V. Lau    


Porto Alegre (RS), agosto de 2006.
     (...) – A reencarnação sempre foi aceita entre as antigas religiões e os sacerdotes iniciados desde os tempos da antiga Suméria, e mais remotamente na extinta Atlântida. Entretanto, essa crença não era compartilhada pelos poderosos de todos os tempos, que achavam desconfortável a idéia de que poderiam vir a reencarnar, em uma vida futura, como mendigo ou escravo. Por esse e outros motivos, a reencarnação sempre ficou relegada ao universo restrito dos sábios e dos sacerdotes. A crença espiritual das múltiplas existências, além de ser um tema complexo, era naturalmente indigesta para aqueles que desejavam manter-se sempre no poder, mesmo que isso fizesse somente parte de uma fé religiosa.
     No âmbito do Cristianismo, depois do retorno de Jesus ao plano espiritual, por diversos anos os ensinamentos do grande rabi da Galiléia foram ensinados de acordo com o entendimento de diversas correntes.
     Uma delas era o grupo dos seguidores de Tiago, o irmão de Jesus, que entendia a mensagem de Jesus como a de um líder espiritual e humano para a libertação de Israel do jugo romano, idéia compartilhada por sua mãe. Tiago acreditava que a mensagem de Jesus era para os judeus, portanto todo aquele que desejasse ser um cristão deveria ser circuncidado e aceitar a religião judaica. Ele aceitava a mensagem filosófica de seu irmão, mas acreditava ser necessário utilizar-se de armas para libertar Israel. Para ele a mensagem era mais humana do que espiritual. Jesus era o messias “físico”, o libertador de Israel.
     Outro segmento importante era o conhecido como Gnosticismo (seita dos “gnósticos”), que se subdividia em diversas correntes internas. Nem todas possuíam uma mensagem coerente. Entretanto o seu segmento mais destacado era composto por verdadeiros filósofos que buscavam interpretar os ensinamentos do Mestre de acordo com a sua real profundidade. Eram em geral admiradores dos ensinamentos de Sócrates e Platão e procuravam conciliar esses ensinamentos com os do Cristo. Os “gnósticos” não acreditavam na divindade de Jesus, mas criam que ele era um grande instrutor da humanidade, e não o próprio Deus, como muitas das religiões cristãs hoje em dia crêem. Eles pregavam que todos deveriam aprender a mensagem de Jesus e evoluir com ela. Ou seja: a verdadeira busca da Luz, aquilo que procuramos hoje em dia para a construção de um novo modelo religioso. Para os gnósticos, Jesus era o professor, e não o Salvador. Não havia adoração religiosa, mas sim esclarecimento espiritual a partir da mensagem do Cristo.
     E, por fim, havia o principal segmento do Cristianismo nascente, que ficou conhecido como a corrente dos “paulinos”, ou seja, os seguidores de Paulo de Tarso (o apóstolo Paulo). Este segmento construiu a Igreja cristã tradicional como a conhecemos hoje. Os adeptos dessa corrente acreditavam que Jesus era o próprio Deus e que o sacrifício na cruz redimiria todos os pecados da humanidade. Em resumo: Jesus era o Salvador, e não o professor. A facção dos “paulinos” com o passar dos anos tornou-se fundamentalista e acusava todas as demais de serem hereges por ensinar conceitos que eles não aceitavam.
     Assim, com o passar dos anos, pouco a pouco, por causa de seu desconhecimento espiritual e interesses obscuros, os cristãos primitivos foram descartando os conceitos sobre a reencarnação do espírito e do carma, aceitos em todo o Oriente. Nas diversas traduções e recompilações dos textos, foi-se, paulatinamtne, trocando-se o sentido das palavras, adaptando-as ao entendimento daqueles que as traduziam, sempre com o objetivo de aproximá-las dos interesses daqueles que começavam a dar força à religião nascente. Os poderosos da época: a águia romana!
     Então, no século IV, durante o Concílio de Nicéia, em 325 d.C., o imperador Constantino oficializou o segmento dos “paulinos” como o “verdadeiro Cristianismo”. A partir daquele momento todos os demais segmentos foram perseguidos até serem extintos. Os “livros hereges” então foram destruídos sem piedade. Eis o primeiro capítulo de longos séculos de inquisição religiosa, que chegaria ao seu ápice na Idade Média.
     Assim, com o poder de polícia (apoio do império) obtido pelos paulinos (ortodoxos), em pouco tempo não existiam mais registros das correntes alternativas do Cristianismo, que terminaram caindo no esquecimento. Até que em 1945, em Nag Hammadi (Egito), foi encontrado um vaso de cerâmica que continha diversos evangelhos de outros discípulos de Jesus, que resgataram para a atualidade parte dos ensinamentos das demais correntes Cristãs. Esses Evangelhos hoje em dia são conhecidos como “apócrifos”, pois não são aceitos pela Igreja. Os da igreja tradicional são chamados de “canônicos”.
     Essa maravilhosa descoberta reacendeu o debate sobre o que é real dentro do Cristianismo como o conhecemos. Portanto, esse é mais um motivo para realizarmos debates sinceros pela busca da Verdade. O terceiro milênio não comporta mais frases feitas como: “a Bíblia é a própria palavra de Deus”. Como afirmamos isso se a Bíblia foi escrita por homens, e não por Deus? (...)
     “Universalismo Crístico”,  O futuro das religiões – Obra mediúnica orientada pelo espírito Hermes – Roger Bottini Paranhos . 1ª edição – 2007 Editora do Conhecimento.
João Pessoa (PB), 2009
     A Igreja Católica aceitava a reencarnação até o ano de 553 da nossa era

     O apóstolo Paulo falava várias vezes de um corpo espiritual, imponderável, incorruptível, (IEpist. Corintios, 15:44) e Orígenes, discípulo de São Clemente de Alexandria, em seus comentários sobre o Novo Testamento, afirma que esse corpo, dotado de uma virtude plástica, acompanha a alma em todas as suas existências e em todas as suas peregrinações, para penetrar e enfornar os corpos mais ou menos grosseiros e materiais que ela  reveste e que são necessários no exercício de suas diversas vidas.
     Orígenes e os pais alexandrinos, que sustentavam uns, a certeza, outros, a possibilidade de novas provas após a provação terrena, propunham a si mesmos a questão de saber qual o corpo que ressuscitaria no juízo final. Resolveram-na, atribuindo a ressurreição apenas ao corpo espiritual, como o fizeram Paulo e, mais tarde, o próprio Sto. Agostinho, figurando como incorruptíveis finos, tênues e soberanamente ágeis os corpos dos eleitos (Santo Agostinho – Manual – cap. XXVI)
     Orígenes afirmava ser a doutrina do Carma e do renascimento uma doutrina Cristã.
     Devido a esta crença, 299 (duzentos e noventa e nove) dias, após sua morte, contra ele a igreja decretou a excomunhão. O segundo Concílio de Constantinopla, no ano 553, decretou: “Todo aquele que defender a doutrina mística da preexistência da alma e a consequente assombrosa opinião de que ela retorna, seja anátema (sentença que excomunga)”.
     Até esta época, a doutrina do renascimento e do carma era aceita pela Igreja Cristã.

     A história do II Concílio de Constantinopla teve marcante acontecimento com a figura do imperador Justiniano, um teólogo, que queria saber mais teologia do que o papa. Justiniano tentou reinserir os monofisistas (Doutrina que reconhece uma só natureza em Jesus Cristo, a divina) no meio dos ortodoxos da igreja, pois temia que os monofisistas, comandados por Severo de Antioquia, se afastassem e voltassem-se para a Pérsia. Organizou no palácio a primeira conferência entre ortodoxos e monofisistas, para a qual convidou seis ortodoxos e seis monofisistas tentando definir as diferenças entre as doutrinas.
     O Papa, Vigílio, apesar de se encontrar em Constantinopla, recusou-se a participar do concílio convocado pelo imperador e tampouco se fez representar. O concílio pressionado pelo imperador excomungou o Papa. O Papa Vigílio acabou reconhecendo o concílio em troca da suspensão de sua excomunhão.
     A esposa de Justiniano chamada Teodora, teve muita influência nos assuntos do governo do marido e até no que se referiu à teologia. Foi ela quem acomodou os monges egípcios e os clérigos siríacos nos vários palácios da capital e, sobretudo, no palácio de Hormisdas, que se tornara o centro da propaganda monofisista.
    Por ter sido ela uma prostituta, suas ex-colegas se sentiam orgulhosas e decantavam tal honra. Mas esse fato a revoltava e se constituía numa desonra, fazendo com que mandasse matar todas as quinhentas prostitutas de Constantinopla.
     Os cristãos da época passaram a chamá-la de assassina e a dizer que deveria ser assassinada, quinhentas vezes, em vidas futuras. Este seria seu carma por ter mandado assassinar as suas quinhentas ex-colegas prostitutas.
     A partir daí, Teodora passou a odiar a doutrina da Reencarnação e como mandava e desmandava em meio mundo através do seu marido, resolveu partir para uma perseguição sem tréguas contra essa doutrina e contra o seu maior defensor que era Orígenes.
     O Concílio tratou de duas questões básicas: O Monofisismo e o Origenismo. O Origenismo defendia a apocatástase do universo (revolução periódica que reconduz os astros ao ponto de onde partiram) e a Reencarnação. O concílio condenou o Origenismo em termos claros e severos.
Tudo isso culminou com o que já citamos, acima, a condenação de Orígenes realizada pelo patriarca Menos e seus bispos em Constantinopla. (grifos e destaque, nossos)
Analisando as Traduções Bíblicas”- Professor Severino Celestino da Silva – Mundo Maior Editora


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