terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O Surgimento da Umbanda no Brasil



Surgimento do Espiritismo na França.

    
Allan  Kardec
  
Hippolyte léon Denizard Rivail nasceu em Lyon, França, em 3 de outubro de 1804. Na época em que trabalhava como professor passou a pesquisar o fenômeno das “mesas girantes”; e também, após contato com a psicografia mediúnica, passou a comunicar-se com os espíritos. 
     Com o auxílio de duas jovens médiuns passou a pesquisar o mundo espiritual; e, através de um método de perguntas e respostas, organizou o estudo de forma a integrar o conhecimento cientifico, filosófico e moral. Como resultado de suas investigações escreveu, usando o pseudônimo de Allan Kardec, o “Livro dos Espíritos”, lançando-o em 18 de abril de 1857. Depois lançou os livros: “O Livro dos Médiuns” em 1861; “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, em 1864; “O Céu e o Inferno”, em 1865; e a “A Gênese”, em 1868. Allan Kardec assim definiu o Espiritismo: “Do ponto de vista religioso o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras, sendo, porém, independente de qualquer culto em particular. Seu objetivo é provar àqueles que negam, ou que duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo e que sofre, após a morte, as consequências do bem e do mal que praticar durante a vida corpórea: o objetivo de todas as religiões.
      Allan Kardec desencarnou em Paris em 31 de março de 1869 cumprindo sua missão de inaugurar a era espirito-cristã na Terra.



Surgimento do Espiritismo no Brasil.

D. Pedro II
     Em 17 de setembro de 1865 foi realizada a primeira sessão espírita em Salvador; e nesta capital, também, iniciou-se a reação da Igreja Católica contra o Espiritismo.
     Em 1873 foi fundada, no Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, a Sociedade de Estudos Espíriticos – Grupo Confúcio. Desse ano em diante ,até 1881, surgiram várias instituições espíritas; sendo que dentre essas, algumas foram dissolvidas e outras foram geradas a partir de dissidências. Ainda em 1881 iniciou-se uma perseguição oficial ao movimento espírita, com uma ordem policial que proibia o funcionamento da “Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade”, fundada em 1879, de característica cientificista e aos centros filiados a ela. A diretoria da Sociedade Acadêmica reagiu contra a medida expedindo oficio alegando arbitrariedade na medida. Em 6 de setembro do mesmo ano ocorreu o primeiro "Congresso Espírita no Brasil"; e no mesmo dia, o imperador Pedro II recebeu uma comissão de espíritas que solicitavam sua interferência diante da proibição. O imperador encaminhou o caso ao Ministro do Império para a solução; mas a tolerância ao funcionamento das atividades da Sociedade só foi concretizada em 1882.
      Em 1884 o Espiritismo possuía várias instituições; e no dia 1 de janeiro foi fundada a Federação Espírita, com o objetivo de unir todas elas e difundir, através da imprensa e de livros, o espiritismo no Brasil.
     A Federação, desde a sua fundação, sofreu diversas dificuldades, tanto financeira como também  divergências ideológicas. Havia um grupo liderado pelo professor Afonso Angeli Torteroli que defendia um espiritismo cientifico; e outro grupo, liderado por Bezerra de Menezes, que defendia uma forma de espiritismo místico religioso.
      Nesses primeiros momentos da fundação da Federação Espirita do Brasil houve a abolição da escravatura, em 1888; e, em 1889, a "Proclamação da República Brasileira". Em seguida, em 1893, surgiu a “Revolta da Armada” que provocou uma instabilidade na instituição, provocando assim o afastamento de grande parte de seus membros iniciais e uma crise financeira; tornando suspensa suas atividades.
      
Em 1895 o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes assumiu a presidência da Federação, regularizou a crise, e instituiu o estudo sistematizado do “O Livro dos Espíritos”; e, no ano seguinte, instituiu o “Serviço de Assistência aos Necessitados”, dando à Federação um caráter doutrinário-evangélico.


 (Fonte de pesquisa: Wikipédia)


      
Zélio Fernandino de Moraes
Em 1908, quando o Espiritismo no Brasil já estava com 24 anos, desde a instituição de sua Federação, um jovem com 17 anos de idade, chamado Zélio Fernandino de Moraes, que residia na cidade de Neves, estado do Rio de Janeiro, começou a apresentar alguns surtos em sua personalidade. Às vezes ele se transfigurava; ora apresentando a postura de um idoso com sotaque diferente e fala mansa, e outras vezes, ele se manifestava com personalidade mais desembaraçada, mostrando conhecimento das coisas da natureza.
      Sua família assustada com os acontecimentos, pensando se tratar de distúrbio mental, procurou um psiquiatra que após vários exames aconselhou que levassem o rapaz a um padre, pois os sintomas apresentados não constavam na literatura médica. da época.
      Então, o pai de Zélio, que era simpatizante do espiritismo, levou-o a uma sessão de trabalhos mediúnicos na Federação em Niterói; e o jovem foi convidado pelo presidente a participar junto à mesa, com outros médiuns. Durante a sessão mediúnica manifestaram-se nos médiuns kardecistas entidades de pretos e índios. O presidente dirigente dos trabalhos, achando que as manifestações eram de espíritos atrasados, advertiu-os pedindo para que se retirassem.
     Uma entidade espiritual, manifestada através do médium Zélio, questionou o porquê dos espíritos manifestados estarem sendo repelidos; se nem deram a chance de serem ouvidas as suas mensagens. Os responsáveis pelo trabalho da sessão mediúnica tentaram “doutrinar” e afastar o espírito manifestante. Após acalorado diálogo a entidade foi questionada sobre seu nome, no que informou que poderiam chamar-lhe por “Caboclo das Sete Encruzilhadas”; pois sua última encarnação tinha sido no Brasil, como um caboclo.
     O espírito informou que, como havia uma discriminação quanto a manifestação de entidades na forma astral de pretos e índios, ele trazia a missão de iniciar um trabalho onde esses poderiam se manifestar através dessas formas para que pudessem trazer suas mensagens e praticarem a caridade.

Imagem: extra.globo.com
      No dia seguinte, dia 16 de novembro de 1908, na rua Floriano Peixoto n. 30, na casa da família do médium Zélio, as 20:00hs, manifestou-se a entidade espiritual Caboclo das Sete Encruzilhadas informando que a partir daquele momento iniciava-se um novo trabalho, onde espíritos de velhos africanos, que foram escravos, e espíritos de índios, se manifestariam para praticarem a caridade em favor dos irmãos encarnados.
Já naquela época, esses espíritos não encontravam campo de atuação nas seitas de origem africana, que naquele período, de pós libertação dos escravos no Brasil, encontravam-se deturpadas em seus cultos magísticos; onde os ex-escravos, para sobreviverem, após a libertação, venderam a magia praticada em seus cultos de origem africana. Começando assim o intercâmbio com as entidades do baixo astral, fazendo trabalhos de feitiçaria.
     Por esse motivo, e pela discriminação das manifestações de entidades, quanto às suas formas astrais de diversas raças, que haveria nas sessões mediúnicas do  espiritismo, iniciou-se o novo movimento chamado de umbanda. Ali poderiam manifestar-se todas entidades comprometidas com o bem e a caridade independentemente de suas constituições físico-astrais.
     A primeira casa de trabalhos espirituais de caridade com base no Evangelho de Jesus foi nomeada Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade.
     Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para fundar sete tendas: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia, Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, Tenda Espírita Santa Bárbara, Tenda Espírita São Pedro, Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge e Tenda Espírita São Gerônimo.
     Desde sua origem, o Caboclo das Sete Encruzilhadas estabeleceu um ritual simples nos trabalhos de atendimento mediúnico, com cânticos baixos, sem atabaques e palmas e sem uso, por parte dos médiuns, de vestimentas e adereços extravagantes. Foi estabelecido o uso de roupas brancas simples e sem sacrifícios de animais, no seu ritual interno e externo. Com o passar do tempo foram criadas umas 10.000 tendas pelo país e algumas foram incorporando no seu ritual o uso de atabaques.
(Fonte de pesquisa: “Umbanda Pé no Chão” – Um Guia de Estudo da Umbanda – Orientado pelo Espírito Ramatís – Norberto Peixoto)


 Gira de Umbanda na atualidade na Tenda Nossa Senhora da Piedade
     


     Em 1971, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, através do médium Zélio, já quase com 80 anos, disse que a umbanda tinha progredido muito e iria progredir ainda mais. Ele fez um alerta prevendo que muitos médiuns iriam se vender prejudicando a imagem da umbanda. No futuro esses médiuns seriam expulsos, assim como Jesus expulsou os vendilhões do templo de Jerusalém. Ele advertiu que para a umbanda progredir era preciso haver muita vigilância moral por parte dos médiuns, para que não fossem envolvidos pelos espíritos obsessores contrários ao trabalho do bem.
     Durante esses 106 anos, desde a instituição da umbanda, surgiram as manifestações de inúmeras entidades com diversas formas astrais. São diversas falanges de Espíritos que realizam trabalhos dentro das "Vibrações Cósmicas", Orixás; e atuam como: caboclos, caboclas, pretos velhos, pretas velhas, ciganos, boiadeiros, baianos, marinheiros, exus, crianças, e outros. Além desta diversidade de espíritos brasileiros também há espíritos do oriente, e de origens diversas. Todos são espíritos que continuam seus processos evolutivos comprometidos com a "Espiritualidade Maior" nesse trabalho de espiritualização da humanidade terrena.
     Infelizmente, surgiu muitas distorções, como foi previsto pelo Caboclo das Setes Encruzilhadas, que prejudicaram a imagem da umbanda. Há médiuns que fazem cobrança de consultas, usam roupas excêntricas, exageram nas incorporações, fazem uso de bebida alcoólica durante as sessões, realizam sacrifícios de animais, e em algumas ritualísticas poluem os sítios vibratórios na natureza. Dessa forma, existem muitas atitudes contrárias aos fundamentos da umbanda que são a simplicidade, a humildade e a pureza.
      Estamos vivendo um momento em que a espiritualidade superior vem desenvolvendo um trabalho de esclarecimento, através de mensagens mediúnicas, para esclarecer o que é, e o que não é umbanda. Apesar de nesses primeiros momentos essas mensagens serem endereçadas, principalmente, ao esclarecimento dos médiuns, os consulentes também vão aos poucos conhecendo os fundamentos umbandista e a importância deles no processo de cura espiritual-física, para a evolução de todos nós. 

      Algumas casas umbandistas já apresentam os seguintes fundamentos básicos:
      Não há cobrança financeira por nenhum tipo de atendimento espiritual.

      Não se faz sacrifícios de animais.

      Na ritualística não há ingestão de bebida alcoólica por parte dos médiuns.

      Não se faz nenhum tipo de trabalho de amarração e que desrespeite o livre arbítrio.

      Não se suja os "Sítios Vibratórios da Natureza" com despachos ou oferendas.

      Não se usa roupas e adereços extravagantes  durante o trabalho mediúnico.


Umbanda praticada no Grupo de Umbanda Triângulo da Fraternidade
(Atualizado em 17/02/2014)

Contagem (MG), fevereiro de 1998.
     - Mas poderia me esclarecer qual a verdadeira natureza e origem da Umbanda? Às vezes se é mal informado a respeito, e confunde-se muito Umbanda com Espiritismo. A ignorância a respeito é generalizada.
     - Pois bem, Ângelo, tentarei trazer um pouco de luz sobre o assunto, embora não pretenda esgotá-lo.
     Desde que os negros foram tirados de sua terra, na África, vieram para o Brasil com o rancor e o ódio em seus corações, pois muitos foram enganados pelo homem branco e feitos prisioneiros e escravos, feridos em sua dignidade, distantes da pátria e dos que amavam. Foram transcorrendo os anos de lutas e dores, e o negro mantinha, em seus costumes e na religião, a invocação das forças da natureza, as quais chamavam de orixás, espécie de deuses a quem cultuavam com todo o fervor de suas vidas. Aprenderam com o tempo a se vingar de seus senhores e déspotas, através de pactos com entidades perversas e com a magia negra, que outra coisa não era senão as energias magnéticas empregadas de forma equivocada. Dessa maneira, o culto inicial aos orixás foi-se transformando em métodos de vingança, em pactos com entidades trevosas, que assumiam o papel dessas forças da natureza ou orixás, disseminando o que se chamava de Candomblé, que, na época, era um disfarce para uma série de atividades menos dignas no campo da magia.
     Com o tempo, foi-se formando uma atmosfera psíquica indesejável no campo áurico do Brasil, que havia sido destinado a ser a pátria do evangelho redivivo, onde estava sendo transplantada a árvore abençoada do Cristianismo pelas bases eternas do Espiritismo. A psicosfera criada no ambiente espiritual da nação foi de tal maneira violenta, que entidades ligadas aos lugares de sofrimento nas senzalas encarnavam e desencarnavam conservando o ódio nos corações, com exceção daquelas que entendiam o aspecto espiritual da  vida. Assim, a magia negra foi se espalhando em forma de culto pelas terras brasileiras. Do norte ao sul do país, as oferendas, os despachos ou os ebós eram oferecidos pelos pais-de-santo, pelos mestres do Catimbó ou de outros cultos que proliferavam a cada dia, criando uma crosta mental sobre os céus da nação.
     Nos planos etéreos da vida, reuniram-se então entidades de alta hierarquia com o objetivo de encontrar uma solução para desfazer a egregóra negativa que se formava na psicosfera do Brasil. A magia negra deveria ser combatida, e seus efeitos destrutivos haveriam de ser desmanchados de maneira a transformar os próprios centros de atividades dos cultos degradantes em lugares que irradiassem o amor e a caridade, única forma de se modificar o panorama sombrio. Havia necessidade de que espíritos esclarecidos se manifestassem para realizar tal cometimento. E, assim, foram se apresentando, uma a uma, aquelas entidades iluminadas que haveriam de modificar suas formas perispirituais, assumindo a conformação de pretos velhos e caboclos, e levariam a mensagem de caridade através da Umbanda, cujo objetivo inicial seria o de desfazer a carga negativa que se abatia sobre os corações dos homens no Brasil. A Umbanda seria o elo de ligação com o Alto; penetraria aos poucos nos redutos de magia negra ou nos terreiros de Candomblé, os quais ainda se mantinham enganados quanto às leis de amor e caridade, e iria transformando, com as palavras de um preto velho ou as advertências do caboclo, os sentimentos das pessoas. E, para isso, meu amigo, era necessário que elevados companheiros da Vida Maior renunciassem a certos métodos de trabalho considerados mais elevados e se dedicassem às atividades que a Umbanda se propunha. A esses companheiros de elevada hierarquia espiritual juntaram-se espíritos de antigos escravos e índios, que serviram por muito tempo nas fazendas e nos arraiais da Terra do Cruzeiro e, em sua simplicidade e boa vontade, propuseram-se a trabalhar para demonstrar ao homem branco e civilizado as lições sagradas da Umbanda. Manifestavam-se aqui e acolá ensinando suas rezas, mandingas e beberagens, auxiliando a curar doenças e dando lições de amor e humildade. Na verdade, a Umbanda tem conseguido seu intento, e, aos poucos, vão sumindo dos corações dos oprimidos o desejo de vingança, o ódio e o rancor. Os cultos afros, em sua essência, vão se transformando, auxiliando o progresso daqueles que sintonizam com tais expressões de religiosidade. A Umbanda está modificando o aspecto desses cultos de origem africana e transformando-os gradativamente, numa religião mais espiritualizada.
     Na palavra de um caboclo ou de um preto velho, a lei de causa e efeito é ensinada por meio de Xangô, que simboliza a justiça; a reencarnação torna-se mais compreensível às pessoas mais simples quando o preto fala de sua outra vida como escravo e da oportunidade de voltar à Terra em novo corpo, para ajudar seus filhos. A força das matas, das ervas, é ensinada na fala de Oxóssi; o amor é personificado em Oxum, e a força de transformação, a energia de vitalidade, é apresentada nas palavras de Ogum.
     Mas há muito ainda que fazer, muito trabalho a realizar. Nossa explicação não esgota o assunto, mostra apenas um aspecto da Umbanda, que guarda suas em épocas muito distantes no tempo. Agora não temos muito tempo para falar sobre isso.
      (...) – E quanto a esses pais-de santo e centros de Umbanda que se espalham pelo país, será que estão conscientes disso tudo?
     - Não podemos esperar a mesma compreensão por parte de todos, meu filho – respondeu-me. – Existe muita ignorância no meio, e os próprios responsáveis pelos terreiros e pelas tendas umbandistas concorrem para que o povo tenha uma idéia errada da Umbanda. Em seus fundamentos, a Umbanda nada tem a ver com o Espiritismo, o que não é bem esclarecido nos meios umbandistas. Começa aí a confusão. Tomou-se emprestado o nome “espirita”, como se ele designasse todas as expressões de mediunismo, e descaracterizou-se muito a Umbanda. Por outro lado, espíritos têm baixado ao mundo com a missão de esclarecer e de certa forma dar um corpo doutrinário à Umbanda, escrevendo livros sérios a respeito do assunto, os quais são ignorados por muitos adeptos. Aos poucos, a verdade irá se espalhando, e quem sabe, num futuro próximo haveremos de ver abolidos os sacrifícios de animais, as oferendas e uma série de outras coisas que nada têm a ver com a Umbanda, mas com outras expressões de cultos de origem afro, os quais são respeitáveis, mas diferem em seus objetivos da verdadeira Umbanda.
     Pais e mães-de-santo que vivem enganando as pessoas, ciganas e ledoras de sorte que cobram por seus “trabalhos”, não têm nenhuma relação com os objetivos elevados que os mentores da Umbanda programaram. São pessoas ignorantes das verdades eternas e responderão ao seu tempo por suas ações inescrupulosas.
Tambores de Angola” – pelo espírito Ângelo Inácio; psicografia de Robson Pinheiro Santos. Contagem: Casa dos Espíritos, 1999.
Porto Alegre (RS), novembro de 2005.
Projeto Divina Luz na Terra

Salve os filhos de fé, salve Oxalá!
Salve a umbanda, nossa casa!

     Esta preta velha, que ainda se acha uma “menina”, mesmo depois de tantos nós já contados no bambu da existência, quando na carne, lembra-se de quantos cestos de roupa suja precisou aguar na lavanderia do espírito para alvejar as nódoas enegrecidas pela magia negativa usada em proveito próprio.
    Comprometida com a Grande Fraternidade Universal para levar conhecimento às mentes mais endurecidas, não deixou ainda de ser a velha feiticeira que vez ou outra se enreda em um envolvimento magísitico, agora direcionado para o desmanche, e, com a graça de Zambi, nunca mais para macular um irmão de caminhada. Deste lado, nós, obreiros da umbanda, a Senhora da Luz Velada, temos árdua tarefa, pois contrariamos o objetivo das trevas, que se embrenham e compram os filhos da Terra com o falso brilho do ouro e dos prazeres sensórios. Se já é difícil encontrar aparelhos mediúnicos com seriedade e altivez para assumir junto conosco a tarefa caridosa, é muito mais oneroso mantê-los vigilantes e leais à luz.
     Quando o Caboclo das Sete Encruzilhadas verbalizou por intermédio do menino Zélio a responsabilidade de implantação da nova religião, missão tão bem cumprida por ele, a espiritualidade descia aos humildes. Esse objetivo nobre precisava de canal elevado, e os Maiorais do Espaço não buscaram para tal feito nenhum médium “coroado”, ou renomado de segmentos religiosos terrenos, nem mesmo mestre, mago, iniciado ou bastião de insígnias sacerdotais. É claro que o menino Zélio, que serviu de instrumento físico, já viera preparado do Astral e, ao retornar a ele, continua envolvido no projeto umbanda na Terra, “como um todo”.
      A umbanda, que também é ainda uma menina, em si não se resume à tenda onde foi alicerçada. Sua história, seus valores, seu objetivo estão intrínsecos muito além das instituições, que mais buscam posições do que resultados; estão sim nos médiuns, cujo comprometimento e cuja seriedade dão continuidade à religião. Não seria o local onde a luz refulgiu que deixaria de ser atrativo para as trevas, assim como tem acontecido na terra onde Oxalá mandou nascer Seu maior representante. Não conseguindo deturpar todas as mentes, focalizam os templos e terreiros pela maior ou menor representatividade que exercem, ante a visão temporária e vaidosa de certas lideranças.
     Os caridosos serão vencedores, e os mercadores de graças irão se consumir em sua colheita. Este é um sinal dos tempos. Portanto, prossigam, guerreiros, caravaneiros da Divina Mediadora, não para combater os muros das trevas intencionalmente, mas para implantar o estandarte da luz, distribuindo-a por todos os cantos onde o vento possa levá-la.
     Não lastimem pelos que se deixam escravizar, pois no Além o projeto ganha forças. Não será o fluido vital derramado de nossos irmãozinhos do mundo animal, sacrificados e utilizados por alguns médiuns, infelizmente ainda comandados pela dependência psicológica das iniciações e dos despachos sanguinolentos, que fará desmerecer todas as tochas que a nossa amada umbanda já acendeu pelas Terras do Cruzeiro.
     Continuem firmes! Perseverem justos e fortalecidos pela certeza da vitória, sem batalhas. Busquem disseminar a verdadeira doutrina umbandista, isentando-se de ceder àquilo tudo que contraria o que foi implantado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. Exemplifiquem e deixem que seus iguais exerçam a atração natural entre si. Documentos são importantes, porém mais importante é o compromisso moral dos verdadeiros seguidores do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Prossigam na busca desses valores e não se preocupem com as querelas e as trevas, as quais respeitamos, mas às quais não podemos nos curvar. A Luz se fará valer.
     Lembrem-se sempre, filhos amados, de que o maior axé, a mais completa força oferecida para os orixás, é o amor e a caridade dentro de cada criatura.
     Saravá aos irmãos da Terra!
     As bênçãos das falanges de Aruanda, do Caboclo das Sete Encruzilhadas, de toda a Confraria da Umbanda e da Fraternidade Universal.
     Paz!
     Vovó Benta
A Missão da Umbanda” – obra mediúnica inspirada pelo espírito Ramatís ao médium Norberto Peixoto. – limeira, SP : Editora do Conhecimento, 2006.



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